1) "O currículo oculto é aquele que é ensinado fora do currículo oficial; vai além do conteúdo específico do assunto e pode ser expresso no ambiente escolar, na sala de aula e respetiva organização de mesas, nos métodos pedagógicos, nas interações entre as professoras e professores e os alunos e alunas, nas interações entre alunos e alunas e em muitas outras dinâmicas invisíveis. Por vezes, o currículo oculto reforça o currículo académico oficial e, outras vezes, contradiz o mesmo. Por exemplo, o currículo oficial pode promover uma melhor compreensão e valorizar a democracia, no entanto, se a professora ou professor (ou o ambiente escolar) for altamente autoritário, a lição democrática pode tornar-se distorcida" (Inee, 2010). 2) "O fato é que os estudantes são estratificados com base nas categorias de desajustamento produzidas em parte pela função produtiva do sistema educacional não significa que precisemos aceitar a ideia de que as "camadas inferiores" desses estudantes recebam necessariamente um currículo oculto que os prepara para simplesmente ocupar e aceitar seu lugar nos degraus mais baixos da escala ocupacional" (Apple, 2024, p. 82). 3) "O currículo oculto está presente na organização das mesas na sala de aula, nos métodos pedagógicos, nas interações entre professores e alunos, na imagem que os professores têm dos estudantes, no compromisso dos docentes e da gestão [....]" (Inee, 2010). 4) “Vemos as escolas como um espelho da sociedade, especialmente no currículo oculto da escola. Uma “sociedade” precisa de trabalhadores dóceis; as escolas por meio de suas relações sociais e de seu ensino velado, praticamente garante a produção dessa docilidade” (Apple, 2024, p. 124). 5) “[...] se considerarmos as escolas apenas como instituições reprodutivas, iremos provavelmente negligenciar a interação dinâmica entre a educação e a economia, e correr o risco de reduzir a complexidade dessa relação a uma simples paródia do que realmente existe no nível da prática” (Apple, 2024, p. 126) 6) “Proponho-me a argumentar que a literatura sobre o currículo oculto, devido a seu modelo de socialização demasiado determinista e a seu foco exclusivo na reprodução, às expensas dos outros fenômenos que podem estar acontecendo, tem a tendência de retratar os trabalhadores como algo similar aos autômatos, totalmente controlados pelos modos de produção, pelos procedimentos técnicos e administrativos e pelas formas ideológicas da nossa sociedade” (Apple, 2024, p. 126). 7) “O currículo oculto diferenciado na escola tem servido para prepará-los bem, pois se essa é a lógica inexorável do controle corporativo, então devemos esperar que os trabalhadores necessitem de normas e disposições específicas para funcionar em um mercado de trabalho hierarquizado” (Apple, 2024, p. 130). 8) “[...] a cultura do trabalho pode ser definida em termos gerais como “uma espera relativamente autônoma de ação no trabalho, um domínio de valores e regras informas e costumeiras que medeia a estrutura de autoridade formal do local de trabalho e protege os trabalhadores de seu impacto” (Benson, 1978, p. 41). 9) “Em síntese, a cultura do trabalho, enquanto “esfera de ação relativamente autônoma”, não é necessariamente apenas uma forma reprodutiva. Ela constitui um domínio de ação que tanto fortalece quanto favorece atividades transformadoras” (Apple, 2024, p. 135). 10) “A cultura do trabalho não é facilmente visível para o observador eterno e, assim como nos estudos sobre o currículo oculto, é necessária uma vivência para se chegar a compreender sua organização e suas sutilezas” (Apple, 2024, p. 135). 11) “Em muitas ocasiões, as mulheres foram bastante eficazes em resistir às exigências da produção e às normas impostas pela gerência nas fábricas” (Apple, 2024, p. 139). 12) “Essa mesma cultura do trabalho serve de base para a resistência do trabalhador, a ação coletiva, o controle informar do ritmo e da habilidade e a reafirmação da própria humanidade” (Apple 2024, p. 143). 13) “Se detectamos resistências, e se apenas no nível informal encontramos homens e mulheres em nossos negócios, fábricas, etc. lutando para manter seu conhecimento, sua humanidade e seu orgulho, então a ação curricular pode ser mais importante do que pensamos, pois os alunos precisa ver a história e a legitimidade dessas lutas” (Apple, 2024, p. 150). 14) “Sem dúvidas é necessário levar em consideração a atividade política e organizacional local a fim de prover as condições necessárias para a utilização de materiais novos ou previamente preparados” (Apple, 2024, p. 151). 15) “Esse trabalho educativo e político não deve se limitar apenas ao nosso sistema educacional formal. A educação política no trabalho- em nossas lojas, escritórios, fábricas e em outros espaços- pode acontecer (e está acontecendo)” (Apple, 2024, p. 151). 16) “E quanto à nossa compreensão não do currículo visível, mas do currículo oculto? O fato de modelos simples de reprodução e correspondência não conseguirem dar conta da complexidade da vida cotidiana tanto nas escolas quanto no trabalho tem implicações significativas para as futuras pesquisas sobre o currículo oculto. [...] devemos procurar saber se existem também na escola padrões de mediação, resistência e transformação semelhantes aos encontrados no trabalho” (Apple, 2024, p. 151). 17) " Se queremos entender as vidas reais dos trabalhadores nos vários níveis da "escala ocupacional, um elemento importante é o que tem sido chamado de cultura do trabalho" (Apple, 2024, p. 91). 18) " O debate acadêmico a respeito das questões conceituais e empíricas em torno do currículo oculto é, em parte, apenas isso - um debate acadêmico a respeito de como devemos interpretar o que ocorre nas escolas" (Apple, 2024, p. 101). 19) " [...] as escolas não podem ser mais que espelhos reprodutivos. Portanto, qualquer ação no seu interior está condenada ao fracasso" (Apple, 2024, p. 102). 20) " [...] atividades que vão além da mera socialização ou reprodução das normas e valores considerados legítimos no currículo oculto? Isso acaba se voltando contra eles em um nível ideológico mais profundo? Quais estudantes? (Recortados em termos de raça, sexo e classe social) - E o que fazem?" (Apple, 2024, p. 104
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